Editorial | Modernos radicais

Autores

  • Marcelo Tramontano Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)
  • Juliana Couto Trujillo Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)
  • Fernanda Ferrari Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)
  • Nayara Benatti Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)
  • Mariah Di Stasi Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)
  • Guilherme Mayrinck Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)

Resumo

MODERNOS RADICAIS

Revisitar o conceito de Moderno e as realizações das vanguardas modernas é uma ideia antiga no Nomads.usp. Além de já ter produzido várias pesquisas sobre arquitetura, cidades e modos de vida no Brasil e no mundo, no período que vai do final do século XIX até meados do século XX, muitas das referências teóricas e projetuais de todas as demais pesquisas do Núcleo têm raízes aí.

O que mais encanta ao se examinar esse período é a atitude corajosa e desafiadora de questionamento e busca de ampliação de limites que constitui um denominador comum a modernos radicais nas várias áreas do conhecimento. No cinema, na música, nas artes visuais, na arquitetura, na literatura, no design, na moda, na própria maneira de se escrever a história, as realizações da primeira metade do século XX exibem, muitas vezes, uma irreverência ao mesmo tempo competente, consistente e conseqüente que talvez tenha se tornado rara desde então.

De fato, é curioso notar que o perfil de muitos que estudam, hoje, as vanguardas modernas é absolutamente conservador, resistente a mudanças e renovações e saudoso de momentos pretéritos. Exatamente o oposto das personagens que estudam. Os modernos radicais que a revista V!RUS aborda em sua décima segunda edição foram, em geral e, no Brasil, em particular, pessoas extremamente abertas ao que acontecia no mundo, leitores ávidos de revistas que constituíam canais privilegiados de informação, grandes viajantes, interessados por processos transdisciplinares, inventores de novas técnicas, formuladores de novos processos, contribuindo para a revisão do pensamento teórico e de modos de fazer em muitas áreas do conhecimento.

Nessa edição, temos o grande prazer de oferecer aos leitores um conjunto de textos e imagens que discutem variados aspectos do Moderno, situados no recorte temporal entre o início dos chamados Tempos Modernos, na Renascença, e os dias atuais.

Leituras críticas e reexames conceituais são apresentados por Otavio Leonidio [ O COMPLEXO FOSTER-EISENMAN ], Flávia da Costa e Rafael Brandão [ DA PROPOSIÇÃO MODERNA NA CONTEMPORANEIDADE: SUPERAÇÃO OU RESGATE? ] e na entrevista com Carlos Martins, por Marcelo Tramontano [ PERGUNTAS MODERNAS, PERGUNTAS RADICAIS ]. Uma reflexão sobre as relações entre moderno e paisagem é proposta por Luciana Schenk [ MODERNO E PAISAGEM, CONTATOS POSSÍVEIS ].

cidade nas histórias em quadrinhos é objeto do estudo de Tânia Cardoso [ UM SONHO QUE NASCE NA METRÓPOLE: CONSIDERAÇÕES SOBRE A CIDADE MODERNA EM LITTLE NEMO IN SLUMBERLAND ]. A cidade também é lida, pelas lentes da arte , no texto de Maria Fernanda Vegro [ A OBRA NOSSO LAR - BRASÍLIA E O MOVIMENTO MODERNO: PARAÍSO OU PURGATÓRIO? ]. Arte e arquitetura são aproximadas no artigo de Rafael de Almeida e Fábio Lopes [ PERSPECTIVAS CRÍTICAS ENTRE ARTE E ARQUITETURA: O IDEÁRIO MODERNO VISTO ATRAVÉS DAS INVESTIGAÇÕES DE DAN GRAHAM ].

Relações entre o Moderno e o cinema são abordadas por Denise Vieira e Ana Elisabete Medeiros [ LE CORBUSIER ENCONTRA A MARRETA: CORPO, ESPAÇO E MODERNIDADE NO FILME O HOMEM AO LADO ] e por Marcelo Tramontano [ ESPÉCIES DE ESPAÇOS: NOTAS SOBRE UM EXERCÍCIO POTENCIAL ], que também explora conexões com a literatura . Uma reflexão sobre a fotografia de uma obra moderna é proposta por Ana Ottoni [ A RUÍNA BRUTALISTA ].

Quatro artigos tratam de espaços de habitar , tema caro aos arquitetos modernos. Um deles, de Silvia Pina e Natalia Ranga, revisita os conjuntos habitacionais O OLHAR DISTINTO DOS IAPS E A IMPLANTAÇÃO HABITACIONAL MODERNA ], e outros três tratam de casas modernas : são os trabalhos de Ana Sofia Silva [ DOMESTICIDADE E VIGILÂNCIA: O EXEMPLO DA CASA DE MELNIKOV ], de Ana Elísia Costa e Mariana Samurio [ CASA PA: ENTRE PAULO MENDES DA ROCHA E METRO ARQUITETOS ] e de Denise Mônaco dos Santos e Andressa Martinez [ IMAGENS DE CERTA MODERNIDADE: A CASA KLABIN EM CAMPOS DE JORDÃO, UMA INSTÂNCIA DE EXPERIMENTAÇÕES ARQUITETÔNICAS ].

patrimônio construído moderno é tratado do ponto de vista da contribuição dos modernos para a construção do conceito de preservação , no Brasil, por Ana Lúcia Meira [ OS MODERNOS E AS ESCOLHAS DO PASSADO NO SUL DO BRASIL ]; no exame de realizações em meio urbano, por Celma Vidal [ EXPERIÊNCIAS DO MODERNO EM BELÉM: CONSTRUÇÃO, RECEPÇÃO E DESTRUIÇÃO ], e em uma experiência de documentação, por Erivelton da Silva [ O MODERNISMO OCULTO DE PETRÓPOLIS ].

Os meios digitais são abordados em dois textos: um, relacionado à arte eletrônica , de Karla Brunet [ ECOS MODERNISTAS EM ARTE ELETRÔNICA ], e, o outro, sobre a atualidade da media art , de Alessio Chierico [ ESPECIFICIDADE DO MEIO NA PRÁTICA PÓS-MÍDIAS ].

Dois trabalhos se debruçam sobre grandes modernos radicais brasileiros. Em um deles, Adelia Borges lê a trajetória de Santos Dumont a partir do design SANTOS DUMONT: O POETA VOADOR ] e, no outro, Renato Anelli traz um aspecto do processo de projeto de Lina Bo Bardi [ UMA FLOR ENTRE A PEDRA E O CRISTAL ].

projeto gráfico dessa edição tem como referência o filme "2001, uma odisséia no espaço", que Stanley Kubrick realizou em 1968. O filme problematiza a relação homem-máquina no momento em que a informatização começava a fazer parte do quotidiano, em diversas partes do mundo. Com design e direção de arte irretocáveis e surpreendentemente atuais, o filme registra muito da maneira como se imaginava o futuro nos anos 1960, exibindo diversos objetos, tecnologias e equipamentos que tornaram-se corriqueiros décadas depois. A paleta de cores, as fontes e o grafismo das páginas da V!RUS 12 evocam o painel de controle do computador HAL 9000, como uma citação à competente pesquisa em design, tecnologia e modos de vida que fundamenta o filme, mas também como homenagem a esse grande trabalho de documentação de um futuro moderno e radical.

Esperamos que essa edição da V!RUS sobre a radicalidade moderna contribua para o debate em torno da necessidade e da urgência de questionamentos que caracteriza seu legado, e inspire nossos leitores em suas reflexões, em suas realizações, em suas vidas.

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Painel do computador HAL 9000, no filme "2001, uma odisséia no espaço". Fonte: Typeset in the Future. Disponível em: < http://bit.ly/28Wu1tz . Acesso em: 06.07.2016

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Biografia do Autor

Marcelo Tramontano, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)

É arquiteto e Livre-docente em Arquitetura e Urbanismo. Professor Associado e pesquisador do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP), onde coordena o Nomads.usp, Núcleo de Estudos de Habitares Interativos, e é editor-chefe da revista V!RUS.

Juliana Couto Trujillo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)

É Mestre em Estudos de linguagem e pesquisadora no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Professora Adjunta na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, coordenadora do grupo de pesquisa algo+ritmo. Estuda processos digitais de projeto, cidades e cultura digital e políticas culturais com meios digitais.

Fernanda Ferrari, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)

É Arquiteta e pesquisadora do Nomads.usp, no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Atua no desenvolvimento, execução e gerenciamento de projetos de arquitetura e de interiores e tem como foco de pesquisa o processo de projeto na plataforma BIM.

Nayara Benatti, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)

É Cientista Social e pesquisadora do Nomads.usp, no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Estuda ações culturais em espaços públicos como processo colaborativo.

Mariah Di Stasi, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)

É Arquiteta e pesquisadora do Nomads.usp, no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Estuda processo de projeto arquitetônico através da Cibernética.

Guilherme Mayrinck, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP)

É Arquiteto e Urbanista, pesquisador voluntário do Nomads.usp no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Desenvolve trabalhos voltados para gerenciamento de projetos e processos colaborativos na construção civil.

Publicado

01-07-2016