Cosmopolitismo doméstico e estruturas afetivas: a especificidade de Londres

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Resumo

Introdução

Uma boa parte do trabalho pós-colonial sobre migração, pertencimento nacional e diferença tem, por muito boas razões históricas e políticas, focado no conjunto injúrias, ascendência e práticas de racismo e xenofobia. Em contraste, este artigo explora uma história dialogicamente relacionada, ainda que mais benevolente, da hospitalidade, simpatia, e desejo pelos 'outros' culturais e raciais que, juntos, formam um grupo de atributos contextualmente específicos que estou chamando aqui de "cosmopolitismo doméstico". As emoções e os imaginários associados ao cosmopolitismo como uma estrutura afetiva têm sido largamente negligenciadas pelos teóricos culturais e sociais envolvidos com o tema, que têm tendido a concentrar-se na reflexividade cognitiva e estética e na manutenção do desprendimento psíquico ou, alternativamente, no discurso dos direitos humanos (Hannerz, 1990, Urry, 1995; ver também Vertovec; Cohen 2002 e Skrbis et al. 2004). A especificidade das relações de gênero quanto a outros lugares e quanto a alteridade, seja racista ou anti-racista, tem igualmente recebido pouca atenção (Nava, 2002 e 2007); enquanto a idéia de um cosmopolitismo enraizado no país de acolhimento e esgotado localmente através de imaginários de identificação e desejo, ao invés de associado a viagens e migração para territórios estrangeiros, quase não foi explorada (apesar disso, ver Derrida, 2001).

O cosmopolitismo, visto através desse tipo de lentes, pode então ser sempre compreendido como uma formação historicamente contingente, geopoliticamente específica, bem como uma que está para ser distinguida conceitualmente de outras às quais ela se sobrepõe em alguns aspectos. Isto inclui, por exemplo, as atuais preocupações da política econômica com a cidadania global ou os padrões de turismo e migração (e.g. Mouffe, 2004). Talvez mais significante politicamente, e mais difícil de destrinchar conceitualmente e empiricamente, seja a distinção entre "cosmopolitismo" e o "multiculturalismo" urbano do século XXI, ou a coexistência com diversidade de todos os tipos, incluindo religião, numa esfera pública algumas vezes diminuída. Nesse tipo de multiculturalismo, diferente do cosmopolitismo, o "outro" é mantido à distância e as diferenças, frequentemente, consolidaram-se ao invés de se dispersarem (Hall, 2002; Hesse, 2002). Finalmente, é também importante salientar que o tipo de cosmopolitismo postulado aqui não existe à exclusão de uma mais tradicional xenofobia britânica. Ao contrario, os dois temperamentos, ou regimes discursivos, muitas vezes coexistem numa tensão paradoxal e antagônica entre si.

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Biografia do Autor

Mica Nava, Universidade de East London, Inglaterra

é Professora de Estudos Culturais e Co-diretora Centre for Cultural Studies Research na University of East London, Inglaterra. Suas publicações incluem Gender and Generation (1984), Changing Cultures: Feminism, Youth and Consumerism (1992), Modern Times: Reflections on a Century of English Modernity (1996), Buy This Book: Studies in Advertising and Consumption (1997) e Visceral Cosmopolitanism: Gender, Culture and the Normalisation of Difference (2007).

Publicado

08-05-2022

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Artigos Convidados