O debate decolonial

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  • V!RUS

Resumo

A compreensão de que Modernidade e Colonialidade constituem um par teórico indissolúvel é a base do chamado pensamento decolonial, que examina e denuncia as estruturas de dominação dos países centrais sobre os povos do Sul Global, as quais permaneceram vigentes nas ex-colônias mesmo após o final do período de colonização, até os dias de hoje. A âncora do projeto Moderno/Colonial ocidental, patriarcal, colonial e capitalista é o conceito de raça, que outorga ao homem branco, cristão, heterossexual, racional e regido pela ciência o direito de dominar todos os não-brancos, os quais seriam parte da natureza, sem conhecimento científico e sem legitimidade histórica, podendo, portanto, ser subalternizados e ter sua história e seus saberes silenciados.

A vigésima sexta edição da revista V!RUS visa reunir artigos científicos e ensaios críticos que questionem a hegemonia da noção norte-atlântica de modernidade em suas variadas formulações, e que situem o debate decolonial a partir dos diversos campos disciplinares, nas escalas local, regional, nacional e mundial. Interessam-nos trabalhos que se posicionem de maneira crítica sobre a difusão e imposição planetária da concepção euro-estadunidense de conhecimento e suas muitas derivações e aplicações, as quais contaminam a própria ideia de conhecimento, suas formas de produção, disseminação, circulação e legitimação, desqualificando outros saberes e vozes críticas e reiterando os projetos imperiais/coloniais/patriarcais que regem o sistema-mundo moderno/colonial, caracterizado por Aníbal Quijano e Immanuel Wallerstein.

Serão aceitos para avaliação artigos científicos e ensaios críticos inéditos que explicitem, em sua temática, no resumo e no corpo do texto, justificativas claras e inequívocas sobre a relação entre a pesquisa apresentada e o debate decolonial.

Esperamos, assim, ampliar o alcance de reflexões críticas e fundamentadas que contribuam para o debate decolonial no Sul Global, produzidas nas várias áreas do conhecimento, em especial arquitetura, urbanismo, artes, cinema, comunicação, design, direito, filosofia, ciências sociais, ambientais e políticas, antropologia, estudos culturais, história, geografia, entre outras, tratando particularmente – mas não apenas – dos seguintes tópicos e suas interseccionalidades:

 

+ Conceitos e referências: a problematização das noções de modernidade, colonialidade, decolonialidade, hegemonia, contra-hegemonia, subalternização, subjetividades, entre outras;

+ Tensionamentos internacionais: a (nova) ordem mundial, as noções de multilateralismo, globalização, internacionalização, imperialismo e mundialização, BRICS e poderes emergentes, migrações transnacionais;

+ Diálogos Sul-Sul, transmodernidade e diálogos interculturais: princípios, fundamentações, estratégias e modos de fazer;

+ Decolonização, diversidade cultural e interseccionalidades: identidade de gênero e étnica, multiculturalidade, povos originários, negritude e cultura afrodiaspórica, políticas culturais, culturas transnacionais, feminismos subalternos;

+ Decolonialidade e expressões artísticas: artes visuais, fotografia, música, audiovisualidades, arte indígena, expressões afrodiaspóricas, arte digital;

+ O audiovisual e a construção decolonial de saberes: filme documentário, projetos colaborativos, cinema, leituras urbanas;

+ Descolonizando a história: revisões, personagens, eventos e apagamentos, novas genealogias epistemológicas, resgate de conhecimento historicamente invisibilizado, crítica da história oficial; 

+ Colonialidade das relações de trabalho: precarização, trabalhadores plataformizados, trabalho e interseccionalidades de raça, gênero e classe social;

+ Descolonizando a universidade: ensino, pesquisa e extensão, missão e modelos institucionais, grades curriculares, compartimentação disciplinar e transdisciplinaridade, redes de pesquisa e interlocução acadêmica, rankings qualitativos internacionais, rankings de avaliação de periódicos, produtivismo;

+ Pesquisa decolonial e referências do Sul: revisão de conceitos e categorias analíticas, repensando objetivos, delimitações de campo, métodos e procedimentos, descolonizando o papel do pesquisador;

+ Decolonialidade e metateorias: pensamento sistêmico, complexidade, cibernética, ecologia da comunicação, transdisciplinaridade;

+ Cidades do Sul: África, Ásia, América Latina e novos paradigmas de desenvolvimento urbano, modelos de gestão e produção da cidade, tensões cidade-campo, periurbanidades, desigualdades intraurbanas, metrópoles, cidades intermediárias;

+ Descolonizando a questão ambiental: relações Norte-Sul e Sul-Sul, desenvolvimento sustentável, metropolização, preservação ambiental, modelos agroindustriais, mudanças climáticas;

+ Economias insurgentes: economia social e solidária decolonial, globalização e decolonialidade, novas economias da sustentabilidade, greenwashing, economia substantiva e outros modelos de desenvolvimento, buen vivir e outras economias no Sul Global, o decrescimento;

+ Arquitetura moderna e decolonialidade: o caráter universal do modelo, o dualismo natureza e cultura, o modelo moderno norte-atlântico como instrumento de dominação, a desqualificação de concepções locais e tradicionais;

+ Decolonizando modos de construir: saberes construtivos locais, arquiteturas de baixa emissão de carbono, sistemas, materiais e arranjos produtivos alternativos, tecnologias e espacialidades inovadoras, o canteiro, o desenho e hierarquias de classe, raça e gênero;

+ Novos paradigmas formais e a perspectiva decolonial: arquiteturas de geometrias complexas, modelagem paramétrica, fabricação digital, processos digitais de projeto e produção, a questão dos programas computacionais;

+ Modos não eurocêntricos de habitar: modalidades habitacionais, habitação e modos de vida contemporâneos, revisão de processos de projeto e produção, espaços de morar espontâneos e tradicionais;

+ Design decolonial: ensino, pesquisa, produção, inovação, consumo, design e populações vulneráveis, revisão de modelos, novas demandas, ancestralidades;

+ A cidade em disputa: insurgências decoloniais, movimentos sociais, ciberativismo, ciberespaço e cena pública, pensamento urbanístico contra-hegemônico e direito à cidade, urbanismo social;

+ Processos participativos de projeto, construção e gestão da cidade: ações comunitárias, plataformas digitais online como locus de participação, ações cidadãs bottom-up, redes de solidariedade, modelos de representatividade;

+ Decolonização e Inteligência Artificial: IA e um novo colonialismo, dominação algorítmica, extrativismo colonialista de dados, IA e impactos no quotidiano, IA e racismo, feminismo de dados;

+ Decolonização e cultura digital: tecnopolíticas, cidadania digital, políticas de software livre e código aberto, redes sociais, programas computacionais como instrumentos de controle;

+ Valoração da memória e do patrimônio de minorias sociais, patrimônios invisibilizados, processos decisórios inclusivos sobre a preservação de arquiteturas, lugares urbanos e monumentos, projeto arquitetônico e técnicas construtivas retrospectivas.

Além de textos e imagens estáticas, são bem-vindos ensaios fotográficos, vídeos, filmes curtos, animações e gifs, peças sonoras, musicais e depoimentos em arquivos de áudio, projetos de instalações artísticas e de arquitetura, urbanismo e design acompanhados de reflexão crítica e fundamentada teoricamente sobre sua concepção, apresentações de slides e outras linguagens digitais, considerando o interesse do Nomads.usp em explorar usos de meios digitais para divulgação científica via Internet.

As contribuições serão recebidas EM PORTUGUÊS, INGLÊS OU ESPANHOL através do website da revista entre os dias 6 de maio e 6 de agosto de 2023, segundo as diretrizes para autores, disponíveis na página de submissões (www.nomads.usp.br/virus).

 

DATAS IMPORTANTES

6 de maio de 2023: Início do recebimento de submissões

6 de agosto de 2023: Data final para recebimento de submissões

A partir de 9 de outubro: Informação aos autores sobre aceite e solicitação de adequações

6 de novembro: Data limite para recebimento das adequações dos autores

27 de novembro: Data limite para recebimento da versão traduzida do artigo

Dezembro de 2023: Lançamento da V!RUS 26

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Publicado

23-12-2022