Memórias, feminismos e outras condutas
Palavras-chave:
Racionalidade neoliberal, Outras condutas, Outras narrativas, Memória, Feminismo, Ocupações urbanasResumo
Propõe-se neste artigo a discussão sobre os processos de subjetivação acionados pela racionalidade neoliberal, e a construção de ações alternativas capazes de se contrapor à lógica da competição e da eficiência, apostando na identificação de “outras condutas” nas práticas cotidianas das mulheres moradoras das ocupações urbanas autoconstruídas, movidas pelo cuidado, compartilhamento e trocas não-mercantis. Tal aposta exige um novo papel do pesquisador, implicado e aberto aos conhecimentos não acadêmicos. Foi a partir desse outro lugar do pesquisador, tendo a cartografia como método de investigação, que duas disciplinas foram oferecidas e desenvolvidas em parceria com as mulheres da Ocupação Rosa Leão, em Belo Horizonte. Partindo da percepção de que as ocupações urbanas autoconstruídas são vistas exclusivamente pelo viés da falta e da precariedade, difundido tanto por uma mídia dominante, como pela visão técnica hegemônica, a proposta das disciplinas foi a de ampliar e complexificar tal visão, por meio da exposição de outras narrativas, constituídas pelas referências e pelas lembranças das mulheres que habitam e vivem o dia a dia daquele território. Diante do desafio de se construir instrumentos que pudessem desencadear um processo de fato dinâmico e compartilhado entre os envolvidos, e evidenciar possíveis tangências entre as teorias feministas e as práticas cotidianas engendradas pelas mulheres da ocupação, optou-se pela construção de dispositivos que ativassem a memória afetiva dessas mulheres. Assim, lembranças foram narradas, registradas, e, por fim, transformadas em suportes (cartazes, estandartes, livro) de uma instalação comemorativa do aniversário da ocupação. Tessitura de lembranças e saberes que evidenciaram subjetivações subversivas e potentes, indicando pistas para a construção de outras condutas.