Domesticidade e vigilância: o exemplo da casa de Melnikov
Palavras-chave:
Melnikov, domesticidade, individualidade, coletividade, vigilânciaResumo
Konstantin Melnikov projectou a sua casa em 1927. Embora fosse já um arquiteto internacionalmente reconhecido, foi gradualmente afastado da prática arquitetônica pelas mudanças politicas que se operavam à época. Após o seu afastamento, Konstantin Melnikov viveu praticamente o resto da sua vida em reclusão na sua casa. A inscrição no topo da casa – Konstantin Melnikov Arquitecto - é contraditória com o espírito socialista que vigorava então. A afirmação de individualidade do habitante revela desde logo um espírito dissonante do contexto e da época em que se insere. Com esta inscrição, sublinha o direito à individualidade como denotarão alguns dos espaços concebidos para o trabalho individual no âmbito da casa. Por outro lado, a análise desta obra permite a observação de diferentes mecanismos de vigilância: relativos à vigilância interior e mútuo controlo entre os membros da família e relativos à possibilidade dada aos habitantes da casa de observarem o exterior. No seu estúdio, Konstantin Melnikov podia observar o espaço exterior. No entanto, a vontade de instaurar uma vigilância no seio da casa deve também ser reconhecida na concepção de vários cômodos, tal como a sala de jantar, o quarto de vestir ou o quarto de dormir. Especialmente no último reconhece-se uma semelhança com os princípios do modelo panóptico desenvolvido por Jeremy Bentham. O engenho arquitetônico que se reconhece em algumas das soluções desenvolvidas nesta casa é motivo de crescente interesse quando estas são confrontadas com as contradições que envolvem o habitar da casa.