Smart Cities, Smart Virus: tecnoutopias do novo normal

Autores

  • Giselle Beiguelman Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
  • André Deak Alonso Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Coronavírus, Smart cities, Vigilância, Urbanismo, Novo normal

Resumo

Este artigo analisa o impacto da Covid-19 na cultura urbana, atentando para as biopolíticas e as novas formas de controle dos corpos que se disseminaram mundialmente a partir da pandemia. Interessa olhar, neste momento em que, como nunca, somos tão digitais, as tecnopolíticas que o contexto pandêmico disparou. Afinal, a pandemia instrumentalizou, de forma exponencial, o uso de big data, a invasão da privacidade pelo uso massivo de dados da população e recursos de Inteligência Artificial, embutidos em aplicativos de monitoramento da propagação do vírus. Tais formas de controle algorítmico se impõem por um conjunto de instrumentos integrados às redes, via processos que remetem aos discursos sobre as smart cities, objeto aqui de uma revisão bibliométrica, com vista a mapear o estado da arte do conceito. Procedimentos como tecnologias de rastreamento de contato e câmeras termais foram largamente implantados durante a pandemia, ainda que sem debate público, com sucesso garantido pelo medo do contágio. A conclusão é que a doutrina do choque pós-coronavírus, além de produzir um aprofundamento do abismo de disparidades sociais, tem como um dos seus efeitos mais perversos a naturalização da vigilância a reboque das políticas de saúde pública. Nesse contexto, Estados-plataforma transnacionais, que se constituem nas alianças entre grandes corporações de tecnologia e o poder público, passam a colher dados privados, levando ao limite relações de poder e soberania já enunciadas por autores como Benjamin Bratton, Adam Greenfield e Paul Virilio. O artigo defende que revisitar a bibliografia sobre o tema das cidades inteligentes permite compreender como as dinâmicas de previsibilidade dos fatos e de apropriação dos dados, pressupostos das tecnoutopias das smart cities, consagram um novo urbanismo, alicerçado no controle dos dados, de caráter oligopolista e socialmente excludente, que se consolida no novo normal ditado pela Covid-19.

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Biografia do Autor

Giselle Beiguelman, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Tem graduação em História, doutorado em História Social e Livre-docência na área de Arquitetura e Urbanismo e Artes. É artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e do Programa de Pós-graduação em Design da mesma instituição. Autora de vários livros e artigos sobre a cultura digital, pesquisadora sobre arte e ativismo na cidade em rede e as estéticas da memória no século XXI. É coordenadora do GAIA - Grupo de Arte e Inteligência Artificial do Programa Inova-USP.

André Deak Alonso, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Tem graduação em Comunicação Social, mestrado em Ciências da Comunicação e é doutorando no Programa de Pós-graduação em Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Brazil. É pesquisador do Laboratório para Outros Urbanismos e membro do grupo de pesquisa Estéticas da Memória no Século XXI. É professor na Escola Superior de Publicidade e Marketing, em São Paulo, onde coordena também o Laboratório de Formatos Híbridos.

Publicado

19-12-2020