A arte urbana enquanto "outro"
Palavras-chave:
V!9, Grafite, Arte urbana, CulturaResumo
Fui gentilmente convidado pela revista V!RUS para escrever um texto para o número dedicado ao tema “a cidade e os outros”, pegando na questão relativa ao graffiti e à arte urbana. Um excelente desafio. Na verdade, a questão do Outro e da alteridade sempre esteve presente na vida citadina e tem sido abordada por diversos cientistas sociais ao longo dos tempos. A cidade é um lugar de elevada mobilidade de pessoas e comunidades, um território de encontro, de convívio mas, também, de conflito e tensão entre múltiplos grupos sociais, étnicos, religiosos, etc. A cidade edificou-se e renovou-se sobre estes alicerces que constituem o seu cimento social. O Outro está sempre presente, de forma mais passageira ou prolongada. Essa alteridade influi profundamente na vida metropolitana, na medida em que as diferenças culturais se expressam na camada visível do ambiente urbano. A paisagem é, invariavelmente, contaminada por esta pluralidade de sons, cores e odores que resulta de formas plurais de viver a vida e a cidade. Tal é especialmente evidente nos bairros ditos “étnicos” que recriam muitas das tradições e representações de terras longínquas. As grandes urbes compõem, assim, um mosaico variado de referências culturais que contribuem para um maior hibridismo e miscigenação cultural. Diria mesmo que esta troca de referenciais favorece a criatividade cultural, ao permitir fusões e diálogos inesperados.