Editorial | O debate decolonial: Territórios
Palavras-chave:
EditorialResumo
Não é certamente por acaso que uma visão decolonial de mundo tem ganhado vigor no momento em que um número crescente de países do Sul global levanta-se contra os mecanismos seculares de dominação dos países norte-atlânticos. Propusemos o tema da decolonialidade para as edições 26 e 27 da revista V!RUS entendendo que as atuais controvérsias expressas no meio acadêmico, que questionam a validade desse pensamento em seus aspectos teórico-conceituais ou metodológicos, constituem uma oportunidade de pesquisa e debate para a Arquitetura, o Urbanismo e áreas afins. Mas move-nos, igualmente, a concordância com alguns de seus pressupostos. Como exemplo, toda a argumentação de autores como Aníbal Quijano, Catherine Walsh, Enrique Dussel, María Lugones, Ramón Grosfoguel e Walter Mignolo sobre o papel fundante e trágico da colonização das Américas na constituição da ideia europeia de Modernidade e sua imposição planetária como perspectiva hegemônica não pode ser ignorada. Parece-nos essencial examinar as origens históricas e sócio políticas de tal processo de dominação, os impactos de sua perpetuação no modo como as sociedades se organizam, e seus desdobramentos nos modos de produção e difusão de conhecimento, nas diferentes áreas.
Os muitos trabalhos que recebemos, assim como os apontamentos e observações das dezenas de revisores externos sobre as ideias e experiências compartilhadas nesses escritos, evidenciam algumas questões importantes. Uma delas é a percepção, nesse conjunto, de um real interesse das áreas pelo tema, inclusive porque muitos pesquisadores já vinham abordando temas afins – como as lutas identitárias, as desigualdades socioespaciais nas cidades do continente, os limites dos programas educacionais direcionados a populações com matrizes culturais não eurocêntricas, entre outros –, nem sempre relacionando-os diretamente com o discurso decolonial. Além disso, os trabalhos recebidos provêm de instituições de todo o Brasil e de diversos países da América Latina, apresentando leituras e aplicações variadas das ideias formuladas inicialmente pelo grupo Modernidade/Colonialidade - M/C: ora fecham o foco e aprofundam reflexões sobre situações muito locais e precisas, ora procuram estabelecer diálogos com autores clássicos dos campos da Arte, Arquitetura, Estudos Urbanos, Design, Educação, Literatura, entre outros, sempre enriquecendo, matizando e problematizando questões inicialmente contempladas pelos pensadores do M/C.
Os trabalhos que publicamos nestas duas edições, selecionados com grande rigor em um processo de estreita colaboração entre autores, revisores e o comitê editorial da revista, compõem dois conjuntos de sub-temas: reflexões relacionadas ao Território, sua conceituação, análise, produção e modos de intervir – reunidas na V!26 –, e trabalhos sobre Expressões, artísticas, literárias, de gênero e interseccionalidades – reunidos na V!27.