Natureza e hegemonia nos modos de morar dos apanhadores de sempre-vivas
Palabras clave:
ideologia, conflitos, EstadoResumen
As comunidades tradicionais no Brasil são marcadas historicamente por situações de conflitos, falta de autonomia e negação de direitos. Abordaremos a questão da moradia da comunidade da Mata dos Crioulos, localizada em Diamantina, Minas Gerais, que se autorreconhece como quilombola e apanhadores de flores sempre-vivas. Em meio aos conflitos territoriais nos quais está inserida, os modos de morar se relacionam intimamente com os modos de vida e com a “apanha” de flores, característica que fundamenta sua identidade coletiva. Na época da “apanha”, as famílias moram nas lapas, e na época de cuidar das roças, moram em casas construídas com técnicas tradicionais, prática esta que pode ser compreendida como contra-hegemônica por não estar pautada nas formas socialmente aceitas pela ideologia do modo de produção capitalista. Estas práticas foram ameaçadas pela implantação de Unidades de Conservação de uso restrito, que sobrepõe o território da comunidade. Este texto tece reflexões a respeito do porquê desses modos de morar não serem considerados legítimos pela sociedade ocidental urbana, e se a contra-hegemonia pode ser uma chave para compreensão desses modos de vida. A partir da compreensão da ideologia como forma de consciência social específica e de uma investigação acerca da relação sociedade/natureza, concluímos que o descaso das lapas e das casas de barro que articulam a territorialidade dos apanhadores de flores estão diretamente ligadas às noções hegemônicas de natureza externa e universal.