Editorial | Do it yourself!

Autores

  • Marcelo Tramontano Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
  • Luciana Santos Roça Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
  • Mayara Dias de Souza Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
  • Maria Julia Martins

Resumo

É com grande prazer que apresentamos aos nossos leitores a décima edição da V!RUS, a revista do Nomads.usp. Somos muito gratos aos 239 autores e autoras que, nessas dez edições, aceitaram debater os temas que sugerimos, através de seus trabalhos aqui publicados. A presente edição é, assim, uma comemoração da V!RUS e do Nomads.usp juntamente com seus colegas, colaboradores, amigos e parceiros, e, em especial, com os leitores de nossa publicação. Os artigos que agora oferecemos à leitura estão plenos de reflexões instigantes, de boas notícias e de ideias estimulantes para, acreditamos, se fazer do mundo um lugar mais justo e solidário.

De fato, o tema dessa décima edição, >DIY//DO IT YOURSELF!+, acabou por nos trazer um conjunto de testemunhos e leituras de práticas que transpiram otimismo. Um otimismo necessário e urgente, nesses tempos em que intolerâncias, cisões e conservadorismo têm varrido vastas regiões do planeta. Os textos, áudios, imagens e vídeos desses artigos ecoam, em grande medida, pautas, posições e conscientizações formuladas nas ruas de tantas grandes cidades do mundo, nos últimos anos. Insistem, felizmente, na ideia de que, entre os cidadãos e seus desejos, necessidades e vontades, nem sempre precisa ou deve haver a mediação do Estado.

Publicamos, nessa edição, uma entrevista, dez artigos selecionados em revisão cega, sendo dois na seção Projetos, além de sete trabalhos convidados na seção Tapete e um artigo do Nomads.usp. Todos se somam na busca de contemplar as múltiplas perspectivas que o tema oferece, e são apresentados em português ou espanhol e inglês.

Do It Yourself é fundamentado teoricamente a partir da noção de Improviso [Bruno Massara Rocha], do conceito de Gambiarra [Hernani Dimantas], e, ainda, do ponto de vista da cibersemiótica em relação a processos digitais de projetos de arquitetura [Gilfranco Alves e Anja Pratschke]. Uma atitude Do It Yourself também constitui referência de dois estudos urbanos sobre planejamento e gestão colaborativa: um, da perspectiva do urbanismo open source e da cibernética [Ana Isabel Junho de Sá] e, o outro, de uma perspectiva histórica, examinando a consolidação desses conceitos, nas últimas décadas, potencializada pela mundialização dos meios digitais [Adriana Goñi Mazzitelli]. Ainda no âmbito das leituras urbanas, o DIY é abordado a partir de usos de espaços públicos eventualmente não previstos em seu projeto [Debora Allemand, Eduardo Rocha, Rafaela de Pinho].

Um conjunto de trabalhos enriquece a reflexão sobre intervenções e ações junto à população, em cidades do Brasil e do mundo. Sempre buscando explorar, exercitar e estimular práticas Do it yourself, tais intervenções e ações se utilizam de metodologias variadas. Diego Fagundes da Silva, Erica Azevedo da Costa e Mattos e Romullo Baratto Fontenellerepensam as relações entre dinheiro, tempo e espaço público, auxiliadas por dispositivos físicos e digitais. Bernardo Gutiérrez relata uma experiência de uso do conceito colaborativo wiki na requalificação do espaço de uma praça e das relações sociais que ele abriga.

No formato de workshopsEdison Uriel Rodríguez Cabeza e Mônica Moura refletem sobre a cultura maker através da produção de mobiliário e da fabricação digital, enquanto Diego Fagundes da Silva, Erica Azevedo da Costa e Mattos e José Ripper Kós escrevem sobre os hackerspaces e o ethos hacker. Manifestações de cunho artístico são tratadas por Carole Brandon, explorando o uso de QR codeTatiana Reshetnikova e Petrov Nicolay Konstantinovich, dispondo objetos inusitados no quotidiano urbano, Elisiana Frizzoni Candian, focalizando a interação do público com obras de midia art, e Cadós Sanchez Bandeira, analisando obras gráficas dispostas na rua como lambes. Dois projetos bastante poéticos visam o resgate pessoal de subjetividades e sua expressão no espaço público: um, de Camila Echeverría, que ressignifica lembranças de antigos programas de rádio, e o outro, de Gabriele Valente, que convida passantes a compartilhar publicamente seus sonhos.

O adensamento de ações quotidianas baseado na colaboração entre universidade e comunidade é abordado em dois trabalhos: Luciana Bosco e Silva, Liz Fagundes Oliveira Valente, Victor Brandão Motta e Alice Zarantonelli Ildefonso propõem a potencialização das relações humanas no universo das feiras livres, e Camila Matos Fontenele, Luna Esmeraldo Gama Lyra e Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva debruçam-se sobre a relação entre designers e comunidade, no âmbito da intervenção em uma favela.

Finalmente, uma reflexão sobre o trabalho de preparo da cena onde o Do it yourself pode vir a efetivar-se, em escalas macro e micro, na região amazônica, é abordado na entrevista com Osvaldo Stella, diretor do Programa de Mudanças Climáticas, do IPAM, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.

Chamaremos a atenção dos leitores para as imagens de fundo do sumário e das seções dessa edição da revista, produzidas a partir da foto de um mosaico de azulejos do Parque Guell, em Barcelona, Espanha. Trata-se de um mosaico reconstruído com cacos de um mosaico árabe, cujos desenhos, como se sabe, obedecem a um extremo rigor geométrico. A reconstrução em Barcelona incluiu a ação de um artesão que, dispondo de partes do mosaico original, produziu um novo arranjo segundo uma lógica pessoal. A fotografia desse rearranjo foi retrabalhada por nós, fragmentando-a e recombinando digitalmente seus fragmentos de variadas maneiras, segundo lógicas nossas, em um processo similar àquele do artesão do Parque Guell. Para nós, essas imagens, que também reproduzimos abaixo, podem, portanto, ser lidas como hipertextos produzidos a muitas mãos, em tempos não simultâneos, em processos analógicos e digitais, resultando em um remix que representa fotograficamente uma atitude Do it yourself.

Esperamos que a V!RUS 10 contribua, em seus limites, para inspirar reflexões e práticas socialmente transformadoras.

Imagens de fundo do Sumário e das seções da revista

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Fig. 1: Imagem original do mosaico em Barcelona. Foto: M. Tramontano.

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Fig. 2: Remix #1, fundo da seção Sumário. Designer: C. Nojimoto.

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Fig. 3: Remix #2, fundo da seção Editorial. Designer: C. Nojimoto.

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Fig. 4: Remix #3, fundo da seção Entrevista. Designer: C. Nojimoto.

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Fig. 5: Remix #4, fundo da seção Artigos submetidos. Designer: C. Nojimoto.

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Fig. 6: Remix #5, fundo da seção Tapete. Designer: C. Nojimoto.

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Fig. 7: Remix #6, fundo da seção Artigo Nomads. Designer: C. Nojimoto.

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Fig. 8: Remix #7, fundo da seção Projetos. Designer: C. Nojimoto.

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Fig. 9: Remix #8, fundo da seção Expediente. Designer: C. Nojimoto.

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Biografia do Autor

Marcelo Tramontano, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

É arquiteto, Doutor e Livre-docente em Arquitetura e Urbanismo. Professor Associado do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, coordena o Nomads.usp e é editor-chefe da revista V!RUS.

Luciana Santos Roça, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

É bacharel em Imagem e Som e pesquisadora do Nomads.usp. Pesquisa a utilização de interfaces sonoras em espaços urbanos, procurando integrar os campos disciplinares de Estudos de Som e Arquitetura.

Mayara Dias de Souza, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

É arquiteta, Doutora em Arquitetura e Urbanismo e pesquisadora do Nomads.usp.

Maria Julia Martins

É Pedagoga, Mestra em Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte, e pesquisadora do Nomads.usp. Investiga o campo das artes corporais contemporâneas e suas relações com o espaço público urbano.

Publicado

10-12-2014